8ª Parte
Ah, já sentia o rubro sangue, a translúcida pele de azuis veias sob os seus lábios - rubis em beijos! Foi percorrido por um frémito de arrebatamento, torturado pelo desejo de lançar suas mãos num pincel, de escorrer a sanguinolenta tinta pela paleta.
Portanto avançou, os seus pés mal pisando a gravilha que parecia abrir caminho ante si. O aroma das flores do jardim envolviam-no como seda invisível, albergando em si doçura tal que quase suspirou de êxtase. Mas o verdadeiro prazer ainda tardava, conquanto que não muito.
Cravou as unhas na palma das mãos, enquanto seguia o vulto que caminhava à sua frente. Conseguia cheirá-lo, agora. Uma mulher, exalando um perfume penetrante, ainda que doce. Sentia-o preenchê-lo, mas não completamente. Faltava-lhe algo, cria. Algo que rejeitaria o que fazia naquele momento, algo - ou alguém. Sentiu outro cheiro, algo que o eriçou, que o fez arder interiormente. Mas o que cheirava era apenas uma reminiscência do que ainda desejava para si.
Concentrou-se de novo na presa à sua frente. Os passos eram pesados, arrastados, como se carregasse em si um peso equiparável ao de Atlas. Óptimo. Encarregar-se-ia de a ajudar a sentir-se mais leve. Nunca Caronte deixara ninguém atravessar o seu rio carregado.
Antes ainda que a mulher ouvisse os seus passos, o seu vulto, não mais que uma sombra, abateu-se sobre ela. Antes ainda que ela conseguisse clamar por ajuda, ele já lhe cravara os dentes, num beijo último, no esbelto pescoço. Antes ainda que ela conseguisse vê-lo, estava morta. Definitivamente.
O sabor férreo do sangue enchia-o de sensações tão conhecidas como os seus pincéis, as suas pálidas telas, mas, contudo, tão estranhas para si como o correr ignóbil da vida em si. Oh, há quanto tempo não sentia o pulsar do coração. Durante alguns melancólicos momentos, contemplou, sem ver, o corpo exangue da sua vítima. Honrada, era como se deveria sentir, acaso pudesse. Nem todos eram tintas de perfeitos quadros.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
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10 comentários:
bolas, quase que se sente o ambiente e a tensão da cena... está lindíssimo dona Catarina!
quero maissss.. -.-'
Magnifico, diria eu, mas está algo mais, sublime tal qual os Campos Elísios ^^
(Quando é que matamos o Payne? hihi)
Obrigada, dom Rafael. ^^
Dirias mal das duas maneiras, menina Leto. Hpmh.
E sim, a morte do brigadeiro tem de estar para breve. Soon, very soon... Muahaahahaha!.
Diria mal porquê? Grrrr....
Porque sublimes são os seus.
Não são nada!
Os teus são muito melhores! São mais involventes, mas profundos.
O tanas. Os teus é que têm imagens mais bonitas.
Hmmm... mas que maravilhoso conjugar de palavras aterradoras que nos fazem tremer a espinha.! Delicioso para a mente este pequeno relato. É como um bálsamo para as feridas.
Estou a gostar da historia. Keep going! ;)
(duvido que me consigam matar mas enfim... Um vampiro nao morre facilmente, Gwahahahaha!!!! )
Hmph, já vais ver se não te fazemos "tremer a espinha". Muahahahahahah!
É claro que o Monsieur Alexander vai ser apanhado.
Vais ser tão famoso quanto o biscoito ^^
O Patrick vai pintar com o teu sangue um quintal de rabanetes xD
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