quarta-feira, 2 de abril de 2008

Capítulo I - O Pintor

8ª Parte

Ah, já sentia o rubro sangue, a translúcida pele de azuis veias sob os seus lábios - rubis em beijos! Foi percorrido por um frémito de arrebatamento, torturado pelo desejo de lançar suas mãos num pincel, de escorrer a sanguinolenta tinta pela paleta.

Portanto avançou, os seus pés mal pisando a gravilha que parecia abrir caminho ante si. O aroma das flores do jardim envolviam-no como seda invisível, albergando em si doçura tal que quase suspirou de êxtase. Mas o verdadeiro prazer ainda tardava, conquanto que não muito.

Cravou as unhas na palma das mãos, enquanto seguia o vulto que caminhava à sua frente. Conseguia cheirá-lo, agora. Uma mulher, exalando um perfume penetrante, ainda que doce. Sentia-o preenchê-lo, mas não completamente. Faltava-lhe algo, cria. Algo que rejeitaria o que fazia naquele momento, algo - ou alguém. Sentiu outro cheiro, algo que o eriçou, que o fez arder interiormente. Mas o que cheirava era apenas uma reminiscência do que ainda desejava para si.

Concentrou-se de novo na presa à sua frente. Os passos eram pesados, arrastados, como se carregasse em si um peso equiparável ao de Atlas. Óptimo. Encarregar-se-ia de a ajudar a sentir-se mais leve. Nunca Caronte deixara ninguém atravessar o seu rio carregado.

Antes ainda que a mulher ouvisse os seus passos, o seu vulto, não mais que uma sombra, abateu-se sobre ela. Antes ainda que ela conseguisse clamar por ajuda, ele já lhe cravara os dentes, num beijo último, no esbelto pescoço. Antes ainda que ela conseguisse vê-lo, estava morta. Definitivamente.

O sabor férreo do sangue enchia-o de sensações tão conhecidas como os seus pincéis, as suas pálidas telas, mas, contudo, tão estranhas para si como o correr ignóbil da vida em si. Oh, há quanto tempo não sentia o pulsar do coração. Durante alguns melancólicos momentos, contemplou, sem ver, o corpo exangue da sua vítima. Honrada, era como se deveria sentir, acaso pudesse. Nem todos eram tintas de perfeitos quadros.

10 comentários:

Laepo disse...

bolas, quase que se sente o ambiente e a tensão da cena... está lindíssimo dona Catarina!



quero maissss.. -.-'

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Magnifico, diria eu, mas está algo mais, sublime tal qual os Campos Elísios ^^

(Quando é que matamos o Payne? hihi)

Kath disse...

Obrigada, dom Rafael. ^^

Dirias mal das duas maneiras, menina Leto. Hpmh.

E sim, a morte do brigadeiro tem de estar para breve. Soon, very soon... Muahaahahaha!.

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Diria mal porquê? Grrrr....

Kath disse...

Porque sublimes são os seus.

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Não são nada!

Os teus são muito melhores! São mais involventes, mas profundos.

Kath disse...

O tanas. Os teus é que têm imagens mais bonitas.

PayNe disse...

Hmmm... mas que maravilhoso conjugar de palavras aterradoras que nos fazem tremer a espinha.! Delicioso para a mente este pequeno relato. É como um bálsamo para as feridas.

Estou a gostar da historia. Keep going! ;)

(duvido que me consigam matar mas enfim... Um vampiro nao morre facilmente, Gwahahahaha!!!! )

Kath disse...

Hmph, já vais ver se não te fazemos "tremer a espinha". Muahahahahahah!

É claro que o Monsieur Alexander vai ser apanhado.

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Vais ser tão famoso quanto o biscoito ^^

O Patrick vai pintar com o teu sangue um quintal de rabanetes xD