terça-feira, 11 de março de 2008

Capítulo I - O Pintor

4ª Parte

O ruído do salão, pejado de seres pálidos, inumanos, figuras saídas de sonhos - ou pesadelos -, bafejou-lhe o delicado rosto, como um suspiro de um amante. Fechou, momentaneamente, os olhos, enquanto, em conjunto com o seu pai, era apresentada aos presentes, por um mordomo de ar empertigado, que quase se poderia imaginar empoeirado.

Uma mão segurou a sua, delicadamente, o que a fez erguer as pálpebras, destapando as formosas íris para o sonoro ambiente, desejando sentir o silêncio e a tranquilidade, tomando-os nos seus braços ansiosamente, na sua solidão. Ela, o sossego e a escuridão.

- Senti-vos bem, senhora? - À sua frente, segurando-lhe a mão enluvada, com a preocupação cintilando-lhe no carvão dos olhos, encontrava-se um homem elegante, de brilhantes cabelos negros. O seu coração contraiu-se numa recordação surda de Raphael. - Precisais de um copo de água?

Adamina abanou a cabeça, suavemente, fazendo balouçar os fios de luz dourada. O cavalheiro em frente a si sorriu, curvando-se numa vénia graciosa, beijando-lhe, docemente, a luva, ostentando como ornamento um sorriso feito de pedaços de lua.

- Permitis-me então que vos convide para uma dança? - Na pista, os pares terminavam os seus volteares sincronizados, por entre aplausos que abafavam os acordes últimos da melodia que se afigurava, à dama, deslocada, sem se adequar ao negro e escarlate das vestes da maioria dos presentes.

Ainda assim, acedeu ao pedido do senhor - que não aparentava ser muito mais velho que ela própria. Mantendo os lábios distendidos num cumprimentar ao prazer, ele conduziu-a para o centro do salão, onde nova música começava a tomar lugar. Com uma delicadeza extrema, ele colocou uma mão na sua cintura, apertando a outra na sua, quase como se não houvesse outra salvação daquele mar de corpos senão o toque da jovem dama.

E era num mar de corpos que se moviam, ondulantes como ondas coordenadas do mesmo escuro e tenebroso oceano, numa elegância inimaginável a olhos humanos.

4 comentários:

Hélia Pereira disse...

viciante, esta historia. continuem

Laepo disse...

awww estou a imaginar a cena e tudo, tá tão linda!

continuem! e rápido! ò.ó

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

De facto a cena está lindíssima... mas não podes estar lá porque morreste.

Muahahaha!!!

Kath disse...

Rápido? Mas o senhor biscoito é quem para fazer exigências, além de um morto, como a Leto diz e muito bem?

Hmph. Coxo. =p