2ª Parte
Pela janela do coche, o mundo escoava-se em tons cinza, preso pelos traços das lâmpadas a óleo que iluminavam as ruas degradadas e sujas, repletas da imundície que inundava o pavimento. Poucas eram as pessoas que ainda percorriam as ruas, a maioria coberta com capas como se para se proteger do que a rodeava, para se proteger do mundo.
Com um suspiro, desviou os olhos do vidro. Cada face que avistava, por mais suja, desfigurada, por mais retorcida pela dor ou - mais raramente - pelo êxtase que estivesse, a recordava do seu amante fugido. Mordeu o rúbeo lábio inferior, quase sentindo as salgadas gotas inundar os seus cativantes olhos. Era um ser das trevas, afinal de contas. Não se permitiria chorar. Mas ele abandonara-a, naquela noite em que o esperara tão avidamente, em que o desejara, mais que nunca, nos seus pálidos braços. Traíra-a, partindo com outra mulher. Haviam ambos desaparecido na mesma noite, e ela não duvidava que estavam juntos, agora, embalando-se sob o mesmo veludo bordado a estrelas.
Suspirou, amarguradamente, um suspiro que faria corações humanos estremecer de prazer. Como ela já estremecera, abraçada pelo seu amado Raphael, que ousara dizer, com uma aterradora certeza, que a protegeria ad infinitum. Até ao final dos tempos, dissera, com a sua doce voz. E, agora, tudo isso se dissolvera.
Abstraindo-se do cenário lá fora, fitou o interior forrado de veludo do coche. O seu pai não a olhava, os seus frios olhos azuis mirando as sombras no exterior. Estava, como sempre, impecavelmente vestido e penteado; ninguém teria dúvidas quanto ao facto de serem parentes. Ela, contudo, tinha-as, por vezes. Incompreendia a rigidez quase militar dele, o seu modo gélido de se dirigir a todos, a forma como punia os que lhe desobedeciam. Era como o gelo, de uma beleza assassina. Sim, porque, até ela o admitia, era belo, deslumbrante, até, e qualquer mortal, homem ou mulher, perdia o fôlego ao pôr os olhos na sua figura esbelta, nos seus compridos cabelos que lembravam uma cortina de fios de ouro, os olhos diamantes azulados.
- Adamina? - Não a olhara sequer.
- Sim, pai?
- Sabes o que espero de ti esta noite, não sabes?
- Sim, pai. - O seu tom era submisso; de nada lhe valeria contrariá-lo.
Ela sabia o que ele esperava dela, claro. Que não o envergonhasse, que não referisse o facto de ter amado um humano, e que, sobretudo, tentasse encontrar um noivo. O oposto de Raphael: um vampiro.
sábado, 1 de março de 2008
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7 comentários:
Como ousais afirmar que não escreveis melhor que a minha pessoa, mademoiselle Kath? Como?
A minha alma simplesmente não compreende -.-'
Está perfeito ^^
Escreves tão melhor que eu, menina Leto! Que asneiras ousais dizer, credo. Isto só à marretada, como diz o Ker.
Chamais-me de mentirosa?
I kill you!! xD
Em relação a isto chamo. E não matas nada, és fofinha. ^^
(O que vale é que o blog é nosso, com a quantidade de spam que fazemos. xD )
humpf tolas! em vez de andarem a resmungar uma com a outra deviam estar era a escrever! bah
está lindissimo kath, perfeito como diz a Leto ^^
Eu já te dou o tolas, biscoito. Também tens de levar marretada?
E não está perfeito, mas obrigada. =)
:)
Pais comandantes. Embora esse não seja o posto mais alto da tropa. Se é que não é apenas uma característica e não um posto. Marechal, isso sim :)
Digo só batucadas :) nada de voz principal certa numa história de vampiros e humanos.
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